CHAMADO AO ARREPENDIMENTO


CHAMADO AO ARREPENDIMENTO
            Este texto foi organizado e escrito após semanas de reflexão sobre o tema: à volta para o Senhor e sobre o cristão nominal. Algumas leituras em materiais de comentários sobre o livro de Apocalipse me ajudaram na elaboração.

            Nesse sentido, quero convidá-los a refletirmos juntos sobre um assunto que tem sido muito comum em nosso tempo, o cristianismo nominal.
            Isso se deve ao momento histórico que vivemos, porém não é um assunto inédito, pois João já nos exortava sobre isso em Apocalipse.
            Mas, seja no século I d.C, ou hoje, temos um desafio. E um dos grandes desafios que temos pela frente é vivermos bem nesta sociedade, denominada por alguns estudiosos de pós-moderna.
            Por isso, como podemos viver bem, segundo os ensinamentos de Jesus, numa sociedade que é: competitiva, consumista, utilitarista, agressiva e que perdeu valores essenciais?
            A sociedade está doente, porque desaprendeu a amar; estabeleceu a desconfiança como condição na relação pessoal; não sabe mais desenvolver relacionamentos saudáveis e profundos; vive deprimida e angustiada; dá lugar a um estilo de vida egoísta e não sabe mais construir pontes de comunicação que levem ao encontro do outro para a celebração da vida em verdade e em amor.
            E é neste contexto que não podemos esquecer que a igreja possui ferramentas eficazes, como: a Palavra de Deus, a oração, a comunhão, a fé, a ação social etc, para conduzir as pessoas a uma restauração integral, levando-as a se tornarem discípulos de Jesus.
            Só que para isso a Igreja, ou seja, nós não podemos estar vivendo um cristianismo nominal.
            Então, vamos refletir sobre o que João escreveu em Apocalipse.

TEXTO:
Apocalipse 3: 15-20

INTRODUÇÃO:
O livro de Apocalipse é considerado por muitas pessoas como um livro de ficção que conta histórias de terror, contudo, este é um livro que conduz a esperança.
            João utiliza a metáfora como método[1] para transmitir a mensagem de Jesus Cristo. O apóstolo, ao escrever às sete igrejas da Ásia Menor, observa que o estado das igrejas corresponde ao estado da cidade em que estão localizadas, mas com Laodicéia isso não ocorre.
            Laodicéia era uma cidade muito rica, que quando foi destruída por um terremoto (60/61 d.C), conseguiu financiar a reconstrução com recursos próprios, por ter um centro bancário. Ela era famosa pelo tecido escuro que produzia, isso porque a lã das ovelhas eram, de igual modo, escura. Possuía, também, uma escola de medicina conhecida por sua pomada para tratamento dos ouvidos e, principalmente, pelo pó-frígio usado para fabricar colírio. Contava ainda com uma estância hidromineral[2] de águas mornas que chegavam as casas, através de tubulações.
            A cidade era rica e próspera e por mais que a igreja de Laodicéia se via da mesma forma, João aponta sua miséria. Esta, devido sua condição de indiferença. Pois, mesmo a igreja não sofrendo perseguição romana, nem tendo dificuldades com judeus ou qualquer tipo de falsos mestres dentro da igreja, Laodicéia era o exemplo de um cristianismo nominal e acomodado.
            João mostra qual era a situação dos cristãos desta igreja, mostra a condenação para eles, mas o apostolo aponta, também, para a esperança – caso se arrependesse.

1.    E qual era a situação dos cristãos de Laodicéia?

1.1  Miserável, pobre, cego e nu.
No versículo 17, João descreve qual era a visão que os cristão de Laodicéia tinham si: “Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma...”
Mas descreve, também, qual sua real situação: “e nem sabes que tu és miserável, pobre, cego e nu”.
A igreja se orgulhava de ser saudável (do seu aparente bem-estar espiritual) e se orgulhava de ser próspera (de ter conseguido sua riqueza com esforço próprio).
Contudo, esta concepção ocultava a acomodação espiritual que estava acompanhada pelo orgulho espiritual, ou seja, eles eram tão autossuficientes que não precisavam de Cristo, o Senhor da igreja.

2.    E como nós podemos, hoje, identificar um cristianismo nominal?

                   2.1  Através do orgulho
            O cristão torna-se autossuficiente e deixa Cristo de fora de sua vida.
            Isso, normalmente, acontece quando deixamos de orar, e de buscá-lo nos momentos de tomada de decisão. Preferimos agir, de acordo, com o que queremos e não buscamos saber qual é a vontade de Deus.
            Outro exemplo é quando agimos como “donos da verdade” e, o que as outras pessoas falam não vale de nada, inclusive, o que Deus nos fala por meio de sua Palavra.
            Ainda, quando nos consideramos, ou consideramos alguém melhor do que outros, por causa daquilo que possuem, seja dinheiro, posição social, ou mesmo, por terem mais estudo.

                   2.2  Através da desmotivação
            O cristão deixa de sentir satisfação nas coisas concernentes a Deus e acaba abandonando as práticas espirituais como oração, leitura da Bíblia, meditação e, principalmente, o serviço e a misericórdia.
            Por serviço e misericórdia podemos entender como nosso ministério e nossa missão, a qual não se restringe as paredes do templo, pois nosso ministério, seja, o louvor, o ensino, o pastoreio, o evangelismo, enfim, nossa missão acontece no mundo e tem como alvo o Senhor e próximo.
            Assim, a desmotivação nos impede de irmos ao encontro do Senhor e do próximo.

                   2.3  Através da indiferença
            O cristão torna-se acomodado com a situação que está a sua volta e com isso, ele não se envolve na causa do outro, não se posiciona contra a miséria, contra a opressão, contra a injustiça e contra a corrupção social.
            Passa-se a considerar tudo normal e não se leva em conta o que a Palavra de Deus nos ensina.

3.    Qual é a consequência do cristianismo nominal

                   3.1  Rejeição por Cristo
            No versículo 16, João demonstra com a metáfora da água morna – referente à estância hidromineral – que o problema dos cristãos desta igreja era que eles não eram “nem frios nem quente”.
            Eles não tinham a frieza da rejeição do evangelho, ou da fé, e nem tinham o fervor de praticar os ensinamentos de Jesus.
            Eles em seu credo afirmavam que Deus existia, mas em suas vidas deixavam claro o contrário, por isso, Jesus estava a ponto de vomitá-los como água morna que não tem serventia.
            Estas palavras soam como uma rejeição final e irrevogável, por parte de Cristo, contudo, os versículos 18 à 20, são uma chamada ao arrependimento, o que leva a entender que a igreja de Laodicéia não estava totalmente sem esperança de recuperação.

4.    Mas em que consistia esta esperança?

                   4.1  Comprar ouro refinado pelo fogo – vers. 18
            Quando João diz que devemos comprar ouro refinado – referente ao centro bancário – ele não que dizer que podemos comprar bênçãos espirituais com dinheiro, mas quis descrever o valor inestimável das bênçãos do Reino de Deus.
            Aqui João exorta a igreja que procure as verdadeiras riquezas: a paz, o amor, a comunhão, a justiça, o direito e a misericórdia.

                   4.2  Comprar vestiduras brancas – vers. 18
            Aqui a metáfora – referente à produção têxtil – serve para exortar a igreja a cobrir sua nudez com vestimentas de pureza e sinceridade.
            Que os nossos pensamentos sejam respeitosos, para que nossas ações não nos envergonhe (Fp 4:8).
            A verdade é consistente e confiável e nos conduz a proteção.

       4.3  Comprar colírio – vers. 18
            Esta exortação é muito importante, por Laodicéia ser um centro médico e fabricar o pó-frígio usado para fazer colírio.
            Os médicos frígios podiam ajudar contra as cegueiras físicas, mas só Jesus podia e pode curar as cegueiras espirituais que impedem as pessoas de verem a realidade e de se engajarem, de se envolverem nesta realidade para transformá-la.

CONCLUSÃO:
O versículo 20 mostra que a esperança para os cristãos de Laodicéia estava na chamada ao arrependimento e no convite que Jesus fez para cear com Ele.
            A exortação para esta igreja serve para nós também – caso estejamos vivendo um cristianismo nominal.
            É necessário que nós deixemos Jesus entrar pela porta, ou seja, Cristo está à porta do coração dos filhos de Deus esperando entrar, o que acontece somente depois do arrependimento do comodismo, da indiferença, para então, podermos cear com Ele.
            A refeição para nós, hoje, não tem muito sentido, mas no contexto judaico era símbolo de afeição, de confiança e intimidade chamar alguém para participar de alguma refeição em sua casa.
            E neste momento Cristo nos chama a cear, pois Ele deseja que nossa confiança esteja Nele; Ele deseja que sejamos íntimos Dele, a fim de conhecermos Sua vontade.
            Somente, quando aceitarmos o convite de Cristo para esta comunhão é que a igreja, ou seja, nós seremos curados de toda indiferença.
            Nesse sentido, o chamado ao arrependimento de um cristianismo nominal acontecerá, quando readmitirmos o Senhor que por vezes excluímos.

REFERÊNCIA:
            PRIGENT, Pierre. O Apocalipse. 2ª edição. Loyola: São Paulo, 1993.

MENSAGEM DA TEÓLOGA:   ELICIANE MOURA LIMA

[1] Metáfora: usa uma palavra no lugar da outra, devido a uma relação de semelhança.
[2] Estância Hidromineral: lugar onde repousava a água mineral, ficava represada.